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  • Peri Dias

Proteger as crianças do assédio é "tarefa de toda a sociedade"





A curiosidade infantil pode ser uma aliada importante da sociedade, na tarefa de proteger as crianças do assédio sexual, na visão do especialista Hélio Deliberador, professor do Departamento de Psicologia Social da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Ele diz que a vontade de explorar o mundo, típica dos pequenos e dos jovens, é suficiente para que pais, parentes e professores consigam estabelecer com eles uma relação baseada no diálogo e na confiança. Isso, por sua vez, abriria as portas para vivências que permitam a crianças e adolescentes identificar potenciais situações de violência e buscar ajuda, se necessário.

Nossa conversa com Deliberador faz parte de parte da cobertura especial do Blog do Veduca sobre assédio sexual, que já tratou de aspectos como o efeito negativo das abordagens sexuais indesejadas contra mulheres em lugares públicos e a forma como a Justiça lida com denúncias de abusos no ambiente de trabalho (veja mais no fim deste post). Já na entrevista com o professor da PUC-SP, descobrimos mais sobre as raízes do assédio na infância e na adolescência, suas consequências e os possíveis “antídotos” contra esse problema.

Para o especialista, o combate ao assédio precisa envolver escolas, famílias, governos e até a imprensa na formação de uma cultura com menos erotização precoce e mais abertura para que crianças e adolescentes possam se expressar livremente e acreditar em suas próprias emoções. Deliberador já falou aqui sobre como o assédio costuma ocorrer e que marcas ele deixa sobre as vítimas. Nesta segunda parte da entrevista, ele detalha o papel das instituições que precisam proteger as crianças da violência. Leia a seguir.


Vigilância e reforço da auto-estima são fundamentais para proteger as crianças


Menino brinca em tanque de areia
Menino brinca em tanque de areia: “é no laboratório da vida que a gente previne situações de assédio”, diz professor da PUC-SP

Blog do Veduca – O que as escolas podem fazer para proteger as crianças e os adolescentes do assédio? Hélio Deliberador – A primeira coisa é abrir espaço para situações em que crianças e adolescentes interajam com seus pares e em que os professores criem situações de expressão para todos. Currículos e formatos em que se pode falar de tudo são importantes. Costumo dizer que é no laboratório da vida que a gente previne situações de abuso. Ter essa abertura à sociabilidade saudável e ao diálogo é importante para desenvolver a maturidade dos alunos. Quando a educação cria no educando uma visão de descoberta do mundo e de si mesmo, as coisas caminham bem.

Blog do Veduca – Mas as escolas devem trazer esse assunto diretamente para discussão? Hélio Deliberador – É preciso estimular a conversa sobre sexualidade com a devida calma. Não precisamos forçar um debate sobre o tema, mas é possível aproveitar a experiência que surge da relação e da conversa naturais com os alunos. As crianças têm interesse pelo mundo, são curiosas, gostam de explorar a natureza, a água, as artes. Nesse contexto, professores e alunos vão criando a abertura e a confiança mútuas para trocar informações de maneira construtiva.

Blog do Veduca – E os pais e os responsáveis, como podem agir para proteger as crianças? Hélio Deliberador – As famílias precisam estar sempre atentas às crianças e no controle das situações envolvendo seus filhos, sobrinhos e netos. Além de monitorar as interações com os adultos, elas podem, por exemplo, estabelecer ambientes de sociabilidade compartilhados, em que se possa reduzir as oportunidades de contatos exclusivos de um adulto com uma criança. O grupo, nesse sentido, cria um ambiente mais seguro. Também é fundamental ter um ambiente em que conversas naturais sejam possíveis, em que pais e filhos convivam em harmonia, façam atividades em conjunto, vivam um cotidiano próprio. Tudo isso cria o espaço para que as crianças se desenvolvam emocionalmente e, com isso, saibam se proteger e evitar situações que podem ser ruins para elas.

Blog do Veduca – É preciso se preocupar com as interações de crianças e adolescentes em lugares públicos? Hélio Deliberador – A realidade dos consultórios nos mostra que é preciso ter cuidado em relação a todos os ambientes: os domésticos, os públicos e também os virtuais. As redes sociais, aliás, têm se mostrado como um espaço de risco para o assédio e é importante estar tão atento à presença das crianças nesses espaços quanto estaríamos se elas estivessem em público. Temos visto uma exposição excessiva das crianças e adolescentes, em muitos casos, e esse é um fator de risco para o assédio. Os pais devem acompanhar essa convivência com terceiros na internet, mediar esse convívio e avaliar, quando necessário, se ela está precoce demais.

Blog do Veduca – Coletivamente, há algo que podemos fazer para proteger as crianças e os adolescentes do assédio sexual? Hélio Deliberador – Como sociedade, prevenimos o assédio quando estimulamos pais e crianças a terem experiências significativas de vivência conjunta, de expressão livre, de sociabilidade construtiva. Uma escola que fosse mais aberta ao diálogo e a aproveitar a própria curiosidade das crianças e adolescentes também seria um grande passo. Quando professores e educandos têm uma relação mais interessante, estamos ajudando a estabelecer o diálogo e a maturidade. Para os jovens, a complexidade do mundo é muito interessante por si só, e ela é suficiente para estabelecer uma ponte entre os adultos e quem está crescendo. Quanto mais aberto e estimulante for o ambiente da criança, mais protegida ela tende a estar. A cultura, a arte, o esporte e as relações intergeracionais saudáveis protegem a criança, nesse sentido, porque ajudam a construir a confiança necessária para ela identificar situações em que o contato com um adulto é inapropriado e buscar ajuda.


Saiba mais sobre como famílias e sociedade podem proteger as crianças do assédio


– O Veduca lançou o curso online Assédio Sexual: Prevenção e Combate. Inscreva-se!

– A Rede Marista do Paraná criou uma série de animações voltadas ao público infantil, para facilitar o diálogo das crianças com pais e professores sobre como se proteger do assédio sexual. Veja os vídeos abaixo.



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