- Peri Dias
EAD: o que mudou na relação dos profissionais com a aprendizagem
A Educação a Distância, também conhecida pela sigla EAD já foi desprezada por boa parte dos profissionais formados no Ensino Superior. Quem nasceu antes dos anos 90 talvez se lembre de quando o acesso à internet era discado ou de quando nem havia internet – sim, o mundo já existiu sem a rede mundial.
Naquela época, as referências mais conhecidas de ensino não-presencial eram os cursos profissionalizante que passavam na televisão às 6h da manhã ou as aulas de violão por correspondência que eram anunciadas nos gibis.
A popularização da internet e o surgimento de dezenas de plataformas de cursos online, no Brasil e no exterior, mudaram o jogo.
Um número crescente de profissionais que já passaram pela graduação ou pela pós-graduação tem recorrido à EAD para continuar aprendendo. No Veduca, que foi uma plataforma pioneira em cursos online gratuitos no Brasil, cerca de três em cada quatro alunos que se inscrevem nas aulas do site declaram já ter completado ou estar cursando o Ensino Superior.
Os especialistas em Educação deixam claro que a EAD no formato atual não substitui o ensino presencial e nem se propõe a isso, mas complementa e abre possibilidades de aprendizagem continuada que não existiam duas décadas atrás. Para quem já participa do mercado de trabalho há tempos ou está a poucos passos de participar, por exemplo, a Educação a Distância oferece uma flexibilidade de horários, locais e ritmo de estudos que, muitas vezes, faz a diferença entre poder estudar ou não.
Como chegamos à EAD?
Antes de entender para onde vamos com a Educação a Distância, é importante saber como chegamos até a sua configuração atual, segundo o professor. Para isso, ele usa o quadro proposto pelo teórico americano Daniel Pink, que atribui, para cada um dos quatro séculos mais recentes, uma forma diferente de as sociedades ocidentais se relacionarem com o conhecimento e com o trabalho:
– No século XVIII, a Era da Agricultura, o mundo ocidental era centrado no trabalho no campo e no conjunto de habilidades que o agricultor precisava ter para cultivar a terra.
– Parte da Europa e dos Estados Unidos evoluiu, no século seguinte, para a Era da Indústria, em um movimento ligado à Revolução Industrial, é claro. O foco, naquela época, era construir os conhecimentos de que os operários necessitavam para operar as máquinas. Surgem estruturas de educação, em algumas partes do mundo, destinadas a formar mão de obra adaptada à dinâmica industrial.
– Já no século XX, com os computadores e, mais tarde, a internet, tem início a Era da Informação, em que surgem os “trabalhadores do conhecimento”. Esse período se caracteriza pela valorização do conhecimento específico e pela acentuação da importância de o profissional estar bem formado e informado para exercer seu trabalho.
– Por fim, no século XXI, passamos a viver na Era Conceitual, com a ascensão de duas novas características indispensáveis, criatividade e empatia. Ganha relevância a necessidade de saber integrar diferentes habilidades, e não apenas ser bom em uma área, e o profissional passa a estar atento às novidades de diferentes áreas do conhecimento, em um ambiente com trocas globais e aceleradas de informação.
EAD na sociedade atual
Nesse cenário da Era Conceitual, as próprias características da sociedade atual criaram as bases para que profissionais de alta qualificação aderissem à Educação a Distância. Dallier lembra que diversos pesquisadores propuseram teorias sobre as mudanças sociais e tecnológicas que permitiram o avanço do ensino não-presencial, mas ressalta alguns pontos essenciais, como a aceleração no ritmo das mudanças, o desenvolvimento de novas mídias, o foco na significação do saber, e não mais na memorização, e a individualização do aprendizado.
“O professor permanece, os alunos permanecem, mas em outra configuração. As relações são virtualizadas. O mestre está presente em um vídeo, em um chat, em um fórum. Temos ruptura e continuidade na forma de aprender”, explica o especialista.
Dallier cita o pesquisador Michel Serres para resumir essa transformação: “A pedagogia significa a viagem da criança em direção às fontes do saber. Até agora, existiam lugares do saber, um campus, uma biblioteca, um laboratório… Com os novos meios, é o saber que viaja. E essa inversão transforma completamente a ideia de sala de aula ou de campus”.
A EAD chacoalha os papéis do aluno e do professor
Definido como a Educação a Distância ganhou espaço, Dallier chama atenção para os impactos que o ensino virtual tem trazido. Duas características necessárias à aprendizagem online passam a ser exigidas dos profissionais que buscam aperfeiçoamento contínuo: independência e iniciativa por parte do aluno. Nesse sentido, o foco da aprendizagem se desloca do professor e do ensino para a aprendizagem e o aprendiz.
“Superamos a ideia da atuação do professor como mero transmissor de informação. Ele não é mais a única fonte do saber, mas passa a ter funções relacionadas à supervisão do aluno, à orientação da pesquisa, à facilitação do aprendizado e até à animação do estudante, no sentido de estimular que ele siga buscando conhecimento”.
O filme Sociedade dos Poetas Mortos, que mostra a relação entre um grupo de adolescentes e um professor com métodos pouco convencionais para a sua época, traz um exemplo do tipo de mestre que ajuda o aluno a buscar significado para o que aprende, segundo Dallier.
Dallier aponta que a aprendizagem relacionada a reter conteúdo ficou obsoleta. “Há lugar para a memória, mas não mais só para a retenção. É fundamental interpretar, relacionar e reelaborar conteúdos. O aprendiz nos meios digitais precisa de subsídio, bagagem e repertório para selecionar a informação”explica o professor. “O aluno virou um editor”, ele resume.
O pesquisador lembra que essas mudanças tiveram início com tendências pedagógicas como o construtivismo, muito antes do surgimento da internet, mas foram redimensionadas pelos ambientes virtuais. A EAD contribuiu para que chegássemos ao que Dallier diz ser a “era da aprendizagem independente e flexível”.
EAD abre novas portas para o crescimento profissional
Outra transformação relacionada à Educação a Distância é a ampliação das possibilidades de profissionais com uma carreira já consolidada aprofundarem seus conhecimentos em determinadas áreas ou mesmo mudarem a direção de suas carreiras sem abrirem mão do trabalho durante anos.
Dallier aponta que os cursos online gratuitos fazem parte dessa mudança, mas que mesmo cursos mais longos, como os MBAs, já estão disponíveis no formato virtual. Mas vamos falar dos impactos da multiplicação e da sofisticação do EAD em um próximo post. Acompanhe o nosso blog e não perca!
Quer saber mais sobre EAD?
Nesta palestra da plataforma TED, o professor do Departamento de Computação do CEFET-MG, Adelson de Paula, fala sobre as possibilidades e desafios que o EAD traz para a construção de habilidades profissionais.