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  • Peri Dias

Assédio sexual nas empresas: prevenção virou tema estratégico



Considerada um tabu, até pouco tempo atrás, a prevenção ao assédio sexual nas empresas transformou-se em um tema estratégico para a retenção de talentos, a proteção jurídica e a preservação da credibilidade das companhias, afirmam especialistas no tema.



“O assédio era uma questão criminal e, quando podiam, as empresas jogavam a questão para baixo do tapete”, afirma Ana Cristina Limongi, professora titular da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo e coordenadora do Programa e do Núcleo de Gestão de Qualidade de Vida da USP.


Ela diz que o fato de a sociedade ter reduzido sua tolerância em relação ao assédio sexual, nos últimos anos, obrigou as companhias a aceitar que precisam buscar ativamente soluções para esse problema. Ela menciona como fatores para essa alteração desde transformações mais teóricas e ligadas ao conceito de bem-estar no trabalho, como as campanhas e definições da Organização Internacional do Trabalho (OIT) sobre o tema, até exemplos práticos de que ignorar as denúncias pode custar caro.


“Nas últimas décadas, houve uma evolução dos movimentos internacionais em relação aos direitos humanos, à diversidade e à consciência sobre a importância da valorização da qualidade de vida. Isso criou as condições para que hoje o assédio seja visto como um tema estratégico nas empresas. Ainda é tabu em muitas delas, mas a concepção está mudando”, diz Limongi.


Ela explica que a elevação no número de denúncias na Justiça comum e na Justiça do Trabalho tornou caro demais para as companhias aceitar o assédio. Esse fator também é mencionado pela consultora em prevenção ao assédio, Ana Addobbati, como razão importante para a mudança da atitude corporativa frente aos abusos. Sócia da Women Friendly, start-up pioneira na certificação de empresas e estabelecimentos que atuam para criar um ambiente livre de assédio, Addobbati lembra que uma indenização por assédio costuma custar pelo menos 20 mil reais à empresa, sem contar o tempo dos advogados e o desgaste do processo.


Combate ao assédio sexual nas empresas precisa ser tratado como política institucional


Proteção à empresa: evitar a cultura do assédio ajuda a preservar a credibilidade da companhia, diz especialista.

Outro efeito do assédio sexual nas empresas, quando revelado, é que ele cria uma crise de reputação interna e externa, o que reduz a satisfação das funcionárias da companhia e ainda ameaça a imagem que clientes e parceiros possuem da companhia.

“Além disso, quando um caso vem à tona, prepare-se para lidar com vários outros. É comum que as pessoas ganhem coragem de denunciar quando veem que outras vítimas de assédio reportaram o problema”, diz Ana Addobbati.


Para a consultora, esse é mais um incentivo “de negócios” para levar a sério todas as denúncias e construir uma cultura de prevenção ao assédio. Evitar que a empresa vire alvo de reclamações em série pode salvar a corporação da falência ou de uma crise grave.

De acordo com Sofia Vilela de Moraes e Silva, procuradora do Ministério Público do Trabalho e co-autora de uma cartilha de orientação a vítimas de assédio sexual nas empresas, o caminho para as empresas lidarem com a questão é criar uma política institucional completa, que coíba abusos no ambiente de trabalho.


“O combate a qualquer prática de assédio precisa ser prioridade. Isso tem que estar no mesmo patamar, por exemplo, da proteção ao patrimônio. Assim como a empresa previne e investiga casos de furto, ela tem que proteger o bem-estar e a intimidade de seus funcionários e funcionárias”, ela afirma.


Moraes e Silva explica que essa política institucional passa não só pela punição aos assediadores, mas também pela realização de treinamentos, em especial com os líderes da companhia, já que eles podem visualizar o que acontece e, muitas vezes os potenciais agressores. Também é possível criar semanas de diversidade e inclusão e tratar do tema no contexto do bem-estar no trabalho como um todo, segundo a procuradora.


“Há uma série de medidas que podem ser tomadas e que precisam ir além da abordagem punitiva. O importante é criar a negativa institucional do assédio”, define.

A professora da USP Ana Cristina Limongi lembra que o esforço institucional contra essa forma de violência também traz oportunidades para as companhias, como a de transformar o bom ambiente de trabalho em um diferencial para atrair e reter talentos. Nesse sentido, o combate ao assédio sexual nas empresas tem se tornado uma estratégia de Recursos Humanos para algumas empresas, e não só um problema a ser resolvido pelo setor jurídico.

Porém, Limongi diz que essa visão estratégica ainda tem muito a avançar na cultura corporativa brasileira.


“Temos que definir um pouco mais o conceito de assédio sexual nas empresas e dar mais profundidade a esse debate. Estamos na fase do susto, que se caracteriza por uma ação mais reativa, mas precisamos chegar a uma fase de proteção às vítimas e de compreensão sobre o assunto”, afirma.


No próximo post do Blog do Veduca, vamos mostrar medidas concretas que as empresas podem tomar para construir uma cultura de prevenção e combate ao assédio sexual nas empresas. Não perca!


Quer saber mais sobre assédio sexual nas empresas?


Fique ligado no curso online Assédio Sexual: Prevenção e Combate, do Veduca.


O site Finanças Femininas publicou uma reportagem com depoimentos de mulheres que sofreram assédio sexual nas empresas em que trabalhavam. Elas revelam como essa forma de violência pode prejudicar a carreira e trazer efeitos psicológicos e físicos para as vítimas.


Assista abaixo a uma breve entrevista da TV Brasil com a Procuradora da República, Renata Coelho, sobre como denunciar o assédio sexual nas empresas.




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